3 maneiras de a inteligência emocional (IE) ajudar você a melhorar sua autodisciplina
- Patricia Aquino
- 20 de mai.
- 4 min de leitura

Honoré de Balzac é, sem dúvida, um dos maiores escritores franceses de todos os tempos. Mas nem sempre foi assim. Pode-se dizer que, no início, ele era “ruim” na escrita. Somente por meio de um nível extremo de disciplina, ao longo de dez anos, ele conseguiu se transformar em um dos grandes nomes da literatura. Dos 20 aos 30 anos, ele se obrigava a ficar preso à escrivaninha, usava trajes de monge enquanto escrevia e se recusava a comer, acreditando que a digestão atrapalharia seu processo criativo.
Finalmente, aos 31 anos, Balzac alcançou seu primeiro sucesso comercial — A Pele de Onagro (La Peau de chagrin). E, após esse marco, ele passou a trabalhar ainda mais intensamente. Nos 20 anos seguintes, escreveu compulsivamente, consumindo litros e mais litros de café (muitas vezes dormindo apenas duas horas por noite). Nesse período, produziu 90 romances literários, incluindo sua obra-prima, A Comédia Humana (La Comédie humaine), composta por 48 volumes e 3.500 personagens únicos — um feito comparável apenas aos de Shakespeare e Dickens.
Para deixar claro, o objetivo deste artigo não é ensinar a se sobrecarregar como Balzac. A proposta é mostrar quanto se pode realizar com disciplina constante — e como a inteligência emocional pode ser uma aliada importante no fortalecimento dessa disciplina.
Talento é a facilidade natural para desenvolver uma habilidade. Habilidade é a capacidade real de realizar algo. Se você tem talento para escrever, talvez não precise de dez anos escrevendo sem parar para alcançar seu primeiro sucesso comercial. Pode ser como Mary Shelley, que escreveu Frankenstein aos 19 anos. Mesmo assim, pessoas talentosas também precisam se dedicar para desenvolver habilidades — a diferença é que elas progridem mais rapidamente. Por isso, quem tem menos talento também pode alcançar grandes resultados; só vai precisar de mais tempo e esforço. Como disse Stephen King: “Talento é mais barato que sal de cozinha.”
Como a inteligência emocional pode fortalecer sua disciplina (sem precisar de jornadas absurdas). Vivemos em um mundo feito para roubar nossa atenção — não à toa chamamos esta era de “economia da atenção”. Por isso, saber direcionar intencionalmente seu foco se tornou uma vantagem.
Aqui estão três estratégias baseadas em inteligência emocional que podem ajudar você a fortalecer sua autodisciplina:
Se estiver difícil começar, reduza o tamanho da meta
A melhor metáfora que ouvi sobre a dificuldade de começar algo veio do neurocientista Andrew Huberman. Segundo ele: “Existe um portão de entrada. É preciso atravessar um esgoto antes de nadar em águas limpas.” Isso acontece porque, ao tentar se concentrar, os primeiros circuitos cerebrais ativados são os do sistema de estresse. Você se sente agitado, sua mente dispersa — mas isso é apenas a entrada. É preciso passar por esse “portão” para alcançar o verdadeiro estado de foco.
A lição da inteligência emocional: Ser capaz de reconhecer e atravessar aquele momento inicial de resistência é uma habilidade ligada à inteligência emocional. É por isso que a estratégia de simplificação da Dra. Becky Kennedy funciona tão bem. Quando você tem dificuldade para começar, continue quebrando o ponto de partida em partes cada vez menores. Isso ajuda a ultrapassar o “esgoto”. Usando a metáfora de forma exagerada, é como se você focasse em cada passo dentro do esgoto até, de repente, se ver nadando em águas abertas. Se Kennedy está escrevendo um artigo e sente dificuldade para começar, ela pensa: “Isso só significa que o primeiro passo ainda não é pequeno o suficiente.” Então ela reduz ainda mais: uma página, um parágrafo, até uma palavra. E, claro, quando rompe essa barreira inicial, o processo flui.
Acumule pequenas vitórias para criar grande impulso
Pequenas conquistas funcionam como aqueles impulsionadores de carrinho Hot Wheels — mantêm você em movimento, renovando sua energia com emoções positivas e reforçando seus hábitos.
O autor norueguês Karl Ove Knausgård é um dos escritores mais prolíficos da atualidade. Ele já publicou 16 livros e continua lançando um por ano. E não são obras pequenas: seu livro mais recente, Os Lobos da Eternidade, tem mais de 800 páginas. Para manter esse ritmo, ele segue um sistema simples. Todos os dias escreve três novas páginas e as envia para seu editor. “Eu precisava de ajuda”, explicou. “Ainda preciso muito. Envio meu manuscrito ao final de cada dia, e ele me responde na manhã seguinte.”
A lição da inteligência emocional: Os pesquisadores Teresa Amabile e Steven Kramer analisaram 12 mil registros de diário de 238 funcionários e descobriram que até mesmo um progresso mínimo em tarefas significativas causa melhorias profundas na “vida de trabalho interior” — ou seja, nas emoções, percepções e motivações diárias das pessoas. Dedicar nem que seja um curto período a algo que tenha significado para você melhora sua vida interna e aumenta a motivação para continuar avançando.
Respeite seu ritmo: a consistência ao longo do tempo é o que vence
Como James Clear destacou em seu livro Hábitos Atômicos, são as ações diárias consistentes que se acumulam e geram grandes resultados. Melhorar só uma fração por dia pode levar a ganhos imensos no longo prazo. Manter o ritmo também significa saber a hora de parar — seja no fim do dia, da semana ou do mês. Balzac, infelizmente, trabalhou até a exaustão e faleceu aos 51 anos, desgastado pela falta de sono. Se tivesse mantido um esforço de 60%, poderia ter vivido mais 20 ou 30 anos, com mais qualidade de vida e mais livros publicados. Embora seja um exemplo extremo, isso vale para qualquer área da vida. O corpo e a mente precisam de pausas reais para se recuperar. Corredores, atletas e levantadores de peso sabem bem disso: dias de descanso são parte essencial do processo. O mesmo se aplica a qualquer tipo de disciplina.
A lição da inteligência emocional: Siga o que chamo de “Regra de Hemingway”. Quando trabalhava em um texto, Hemingway sempre tentava parar enquanto ainda sabia o que queria escrever a seguir. Assim, no dia seguinte, podia retomar de onde parou com facilidade. Às vezes, ele até interrompia a escrita no meio de uma frase. Ao parar quando ainda se tem energia e clareza, você guarda combustível para o dia ou semana seguinte. Muitas vezes, isso é mais valioso do que forçar a continuidade e depois acordar completamente esgotado.
Conteúdo de Kevin Kruse
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